Pesquisas do Observatório de Favelas do RJ

Em 2006 uma equipe composta pelos pesquisadores: Jailson de Souza e Silva, Raquel Willadino Braga, Fábio da Silva Rodrigues, Fernando Lannes Fernandes e Elionalva Sousa Silva.  Pesquisaram o seguinte tema:


CAMINHADA DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS NA REDE DE TRÁFICO DE DROGAS NO VAREJO DO RIO DE JANEIRO, 2004-2006
 
Esses pesquisadores desenvolveram uma coleta de dados sobre o Programa Rotas de Fuga, que consistia basicamente na rede sócio-familiar das crianças e jovens residentes nas favelas do RJ. Com efeito, esses dados contribuem para subsidiar a elaboração de metodologias que previnam o ingresso de novas crianças e jovens nesta atividade de tráfico ilícito, além de auxiliar a criação de alternativas sustentáveis para aqueles que querem sair da rede ilícita de drogas no Brasil.
 
O Rio de Janeiro é popularmente conhecido por favelas dominadas antigamente por grandes facções criminosas, de traficantes e usuários de drogas em diversos níveis de envolvimento direto e indireto com a rede. A presente pesquisa envolveu crianças, adolescentes e jovens com idade entre 11 e 24 anos. A maior concentração (85,7%) se situava na faixa etária de 15 a 19 anos. Os 19,1% dos entrevistados se encontravam na faixa etária de 13 a 15 anos e 2,6% tinham entre 11 e 12 anos.
Outra parte interessante dessa pesquisa, está focada na renda, 59,2% dos adolescentes e jovens provêm de grupos familiares que vivem com uma renda que não chega a 3 salários mínimos. Destes, 19,2% alegam que a renda familiar não ultrapassa um salário mínimo. Alguns familiares dos entrevistados também atuam no tráfico de drogas, mas, na maioria dos casos, a renda da família é fruto de outras atividades desenvolvidas no mercado de trabalho formal e/ou informal. Entre as profissões identificadas, uma grande parcela dos pais trabalham na área de construção civil (20,4 %), enquanto a maioria das mães (57,9%) desenvolve atividades domésticas. A grande diversidade de ocupações registradas revela um investimento permanente das famílias no desenvolvimento de estratégias de sobrevivência.
 
A composição da estrutura familiar dos adolescentes e jovens se caracteriza por frequentes reconfigurações. A maioria tem famílias numerosas, compostas, em vários casos por filhos de pais diferentes. Somente 5,2% declararam ser filhos únicos, enquanto 47,4% afirmaram ter mais de três irmãos. Apesar desse percentual inicial, apenas 11,7% dos entrevistados apresentam algum irmão envolvido na rede do tráfico de drogas. Isto demonstra de numa mesma família diferentes trajetórias de vida podem ser traçadas e desmistifica a frequente vinculação estabelecida pelo senso comum, entre o "tipo de estrutura familiar" e o ingresso em atividades ilícitas.
 
Atualmente, nossa sociedade tem diversas estruturas de família, e o mais importante é a presença e a dedicação, a afetividade, a educação, a cultura e os valores imateriais que complementam a conviência dentro de casa. 
 
De acordo com a pesquisa, o aumento do desemprego estrutural, a precarização do trabalho e os condicionantes conjunturais derivados das mudanças recentes na esfera da produção tem situado a juventude como um setor especialmente vulnerável ao desemprego e às modalidades precárias de inserção no âmbito laboral.
 
Os pais nem sempre conseguem dar o melhor de si, quando estão exaustos e cansados da vida complicada no trabalho e precisam de mais estrutura emocional, mais lazer, mais recursos, mais espaço para eles mesmos antes de oferecerem tudo o que podem para seus filhos. Quando se mora em cidades grandes, céleres e movimentadas, sem parques seguros perto das periferias e principalmente, sem tempo para a criança estar mais próxima de seus entes queridos, a desestrutura emocional pode aprimorar a curiosidade por coisas e pessoas desconhecidas disponíveis. Porque o maior presente para a criança e o adolescente é a presença, a troca de olhares, de afeto, o diálogo, o abraço, o aconchego. Depois surgem as outras necessidades materiais próprias de cada um.
 
Muitos jovens buscam trabalhar cedo em busca do "pão de cada dia" e amadurecem com base no endurecimento emocional em troca de recursos, sem encontrar a vida de desejam e sonham, correm para os becos escuros da droga, do tráfico, do dinheiro fácil e lamentavelmente podem encontrar a prisão e a morte antes do tempo.
 
MOTIVAÇÕES
 
Entre os aspectos apontados pelos entrevistados como atrativos que os levaram a ingressar no tráfico, a motivação econômica, associada às dificuldades financeiras da família e a falta de acesso ao mercado de trabalho, aparece como o principal argumento. Também merecem destaque elementos de ordem subjetiva como a "adrenalina", a " sensação de poder" e o prestígio", citados por vários adolescentes como motivadores para ingresso e, posteriormente, para a sua permanência no tráfico.

AMIZADES: As amizades dentro da rede ilícita também aparecem como um elemento que favorece a iniciação de alguns jovens no tráfico de drogas, como um processo gradativo, e as práticas de venda de pacotinhos torna-se natural, os meninos se tornam olheiros, aviõezinhos e as meninas empacotadoras, namoradas de traficantes gerentes e assim evolui um processo estruturado de organização do tráfico. Começam a ganhar presentes, roupas, lanches e o salário com gratificações eventuais, além da arma. Trabalham frenéticamente e abandonam a escola em torno de 11 anos de idade... Essa evasão escolar muda o rumo da vida desses meninos e meninas que se envolvem com o mundo marginal das drogas ilícitas, sofrem diversas violências físicas, morais e culturais, partindo de uma vida pouco equilibrada com menos estabilidade, para uma ROTA DE FUGA. Sendo que o caminho da felicidade não está no consumo imediato por meio do dinheiro fácil e sim, na educação como meio futuro de prover condições necessárias de competir no mercado formal de trabalho honesto.
  
Um dos fatores importantes para a prevenção, portanto, é pensar e fazer o jovem e a criança, repensarem nas suas escolhas de amizades, influência de primos e parentes que possuem comportamentos estranhos e a vigilância da família nesses tipos de relacionamento. Não se pode proibir, principalmente nessa faixa etária o contato com amigos e pessoas problemáticas e emocionalmente perturbadas, mas no caso do desenvolvimento psicológico e comportamental, os jovens estão se construindo como futuros adultos e cidadãos. É bem diferente de nós adultos, que sabemos lidar com problemas e nem sempre nos deixamos envolver emocionalmente, não seremos influenciados totalmente em nossas escolhas e comportamentos e muitas vezes, quando somos, fazemos a distinção necessária, do que aceitamos e não aceitamos. Se aceitamos, muitas vezes recebemos um esclarecimento sobre aquele indivíduo ou grupo, assim como ocorre na política e nos interesses sociais e coletivos, existe uma intencionalidade. Distinção esta, que a criança e o jovem têm mais dificuldade e menos maturidade para fazer em casos complexos e precisam de orientação.

 
 
 

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