COMO UM DEPENDENTE QUÍMICO CONSEGUE RECUPERAR-SE?
Significado de Recuperar:
Com a divulgação da Pesquisa Sobre a Situação do Crack nos Municípios
Brasileiros, em dezembro de 2010, diversos gestores entraram em contato com a Confederação
Nacional de Municípios (CNM) para relatar os problemas causados pelas drogas e
as medidas tomadas para tentar reverter à situação na sociedade local. O estudo
mostrou que o Crack apresenta-se em quase todos os Municípios brasileiros,
portanto o poder público tem despertado políticas públicas para resolver o
problema que atinge diversas famílias.
v.t. Reentrar na posse, no gozo de: recuperar a fortuna. / Recobrar: recuperou a visão. / Promover a restauração de: recuperar um quadro célebre. / Fazer reintegrar-se na sociedade: recuperar menores delinqüentes. / &151; V.pr. Restabelecer-se: recuperar-se de uma pneumonia. / Reabilitar-se, readquirir prestígio: depois de várias derrotas, o atleta recuperou-se./
FONTE: Dicionário Aurélio Online
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Para que uma pessoa recupere sua riqueza física, sua capacidade de autonomia, liberdade, consciência, assumir a responsabilidade integral por si mesma, uma série de fatores precisam harmonizar-se devidamente:
1- DESINTOXICAÇÃO QUÍMICA MEDICAMENTOSA
2- AFETO E VÍNCULOS EMOCIONAIS SAUDÁVEIS
3- AUTO-CONTROLE POR MEIO DE ATIVIDADES DE TERAPIAS E AUTO-TERAPIA
4- LUDICIDADE E JOGOS COM REGRAS
5- LABORTERAPIA
6- PRÁTICA DE ESPORTES
7- GRUPO DE APOIO À FAMÍLIA
8- GRUPO DE TRABALHO E RESINSERÇÃO SOCIAL
9- TRABALHO REMUNERADO PARA ADULTOS E ESCOLA PARA ADOLESCENTES E CRIANÇAS
10- ACEITAÇÃO SOCIAL DO RECUPERANDO
Esses dez itens citados são apenas o começo para uma complexa situação de relações internas e externas de reeducação, tanto do recuperando quanto do seu meio social, pois o dependente químico, de alguma forma, tornou-se produto de um meio doente, às vezes até criminoso, injusto, desigual e violento.
De acordo com a Constituição Federal:
Art. 5º- “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a
tortura nem a tratamento desumano ou degradante;”
Este artigo contribui e norteia as políticas sobre drogas do Distrito
Federal a oferecer condições de tratamento público aos dependentes químicos,
respeitando seus direitos individuais e coletivos conforme citado acima.
No Brasil, atualmente já existe uma clínica pública no interior do Estado
de São Paulo chamada ALAMEDAS, do Instituto Bairral de Psiquiatria para
dependentes químicos, na região de Itabira, que oferece atividades esportivas,
terapêuticas e assistência médica para 35 usuários de crack e cocaína, e 70
alcoolistas. A rotina esportiva é coordenada por um professor de educação
física e monitores. No local há um campo de futebol, espaço para caminhada ao
ar livre, piscina para atividades aquáticas de hidroginástica e bigboll. As
regras dos jogos auxiliam o discernimento do certo e errado, limites e frustrações
psicológicas, orientados por psiquiatras e uma equipe multidisciplinar, além de
interação com atividades ocupacionais de arte e artesanatos diversos. Esta
clínica apresenta também um trabalho de conscientização do dependente químico
sobre sua doença, apoio às famílias dos usuários em tratamento por meio
voluntário ou se a equipe multidisciplinar julgar necessária. Os atendimentos
ocorrem separadamente, apesar de algumas atividades serem simultâneas, o perfil
dos usuários alcoolistas atingem mais as pessoas maduras de 30 a 40 anos que já tiveram
uma vida estruturada antes do uso abusivo do álcool e perderam tudo em função da
droga. Já os usuários de crack e cocaína atingem a juventude, que geralmente
não teve tempo de constituir família e cometeram alguns delitos como furtos e
latrocínio (roubo seguido de morte). Nesta clínica, os pacientes aprendem o
valor do trabalho e do exercício físico além da desintoxicação química, para
recomeçarem suas vidas fora do ambiente localizado em área verde próxima às
cidades de Águas de Lindóia, Amparo, Serra Negra e da fronteira mineira de
Jacutinga e tem conseguido bons resultados relatados pelos próprios pacientes.
Registrou-se baixo índice de intercorrências. Houve poucos casos de internos
que pediam ao visitante para trazer droga. A transgressão de comportamento dos
ex-internos é avaliada caso a caso. Por exemplo, se a pessoa apresentar
sintomas de confusão mental, agitação, risco de fuga ou suicídio, uma saída é
encaminhá-la à enfermaria especial da UTI psiquiátrica, que possui 8 leitos e
oferece atendimento médico e psicológico diários. O serviço público é uma
parceria entre o Instituto Bairral de Psiquiatria, a Secretaria de Estado da
Saúde e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A Comunidade Terapêutica Pública (CTP) Reviver, consiste em um
projeto de recuperação de usuários de drogas desenvolvido em Cachoeirinha (RS)
sob a administração da prefeitura. O espaço localizado em um recanto verde de
11 hectares do Distrito Industrial terá: telecentro, sala de ensino
multiseriado e oficinas de padaria, de confeitaria, de plantação de
hortifrutigranjeiros e de produção de fraldas geriátricas e pediátricas. Toda a
estrutura foi montada com o apoio da sociedade civil e demais segmentos da
região. Como por exemplo: equipamentos para as oficinas e os equipamentos de
acessibilidade nos banheiros foram obtidos por meio de doações o que resultaram
em grande economia de custos ao Município.
O caso de Cachoeirinha no Rio Grande do Sul chama a atenção não só pela
implantação do novo órgão criado, a Comunidade Terapêutica Pública (CTP) Reviver, inaugurada no dia 12 de março
de 2011 representa um projeto pioneiro no País. Principalmente pela história do
prefeito Luiz Vicente Pires. Ex-dependente químico, inclusive em Crack, o prefeito
superar todos os problemas da droga e prioriza ações governamentais que levam
esperança a pessoas que ainda sofrem por causa da dependência química. Hoje,
emocionado, Pires conta a sua história e se enche de motivação para ajudar quem
se encontra na mesma situação em que ele esteve durante mais de
30 anos de sua
vida. De acordo com os seus relatos, a maconha foi a primeira droga que
experimentou, posteriormente passou a consumir bebidas fortes, a usar cocaína
e, aos 30 anos, estava completamente dependente do Crack.
Envolvido com drogas desde os 16 anos, com ficha criminal, Pires buscou
ajuda. Uma possível recuperação começou aos 33 anos, após muito sofrimento. O prefeito
relata que foi condenado a seis anos de prisão, dos quais cumpriu três anos. Entretanto,
com a força de vontade e o apoio da família – da esposa e dos quatro filhos –
conseguiu se superar e venceu o processo de reabilitação e ressocialização.
Foram nove meses de internação em uma comunidade terapêutica envolvido com
atividades cotidianas e espirituais – conforme ele chama. “O poder público e a espiritualidade me ajudaram neste processo”,
reconhece.
Depois de recuperado o prefeito começou a descrever para as pessoas sua
experiência complexa com as drogas. “Comecei com palestras e reuniões em
grupos”, relata Pires. E desta pequena iniciativa surgiu um grande
representante da sociedade, apoiado pela comunidade local. Sem esconder, nem
maquiar sua história, Pires foi galgando cargos públicos até a sua candidatura
a prefeito. “Foi muito difícil o processo
eleitoral, os adversários políticos usavam o caso para colocar dúvida nas
pessoas em relação à minha condição de ex-dependente”, lembra.
De toda a sua trajetória, o prefeito reconhece que a
parte mais difícil é lidar com preconceito e a desconfiança das pessoas. Mas em
seu caso ele teve o privilégio de ser conhecido na cidade e receber o apoio da comunidade
em geral. “As pessoas acreditaram em
minha recuperação e fui um dos candidatos mais votados da história do
Município”, relata. Ao ser eleito prefeito, aquilo que era apenas uma pequena
iniciativa se tornou uma política pública de recuperação a dependentes químicos
e desta política a implantação do projeto Comunidade Terapêutica Pública.
Com pesar Pires relata como ocorreu a discriminação: “O preconceito das pessoas, que não
acreditam na recuperação, e a vergonha que a família passa é a parte mais
difícil do processo de ressocialização”, relata. Ele também constata: “muitas vezes podemos perder um recém-
recuperado porque ele encontra muita dificuldade para retomar a confiança da
sua comunidade”, lamenta. “A
reinserção social de um ex-dependente químico ainda é muito difícil por causa
do preconceito”, destaca.
A ligação entre drogas, violência e crimes também
foram relatadas pelo prefeito durante a entrevista. “O Mundo das drogas está totalmente ligado às mazelas que acontecem
numa cidade. É na dependência química que se inicia a maioria dos crimes e das
mortes”, atesta. Pires fala, não apenas por experiência de vida, mas também
pela confirmação obtida por meio de dados do Município e de pesquisa pública.
De acordo com o prefeito gaúcho, a localização de
Cachoeirinha é um agravante para a entrada das drogas. Situado na região
metropolitana do Estado, o Município tem os 47 km² de extensão territorial e
abriga mais de 118 mil habitantes, a maioria de classe média baixa. O que, de
acordo com ele, é um indicativo de entrada maior de drogas. No entanto, mesmo
com as dificuldades administrativas, Pires declara que em seis anos, o projeto
social de recuperação aos dependentes já mudou a vida de mais de 250 pessoas,
entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todos reabilitados e
socializados. “Em 2008 éramos a cidade com maior índice de violência da região
metropolitana do Rio Grande do Sul e atualmente, mostrou uma pesquisa de 2010,
não estamos nem na lista das dez mais violentas”, celebra.
Este resultado ele julga ser apenas reflexo das
políticas sociais, principalmente a de recuperação a dependentes químicos e de
acompanhamento familiar destes. “Estamos atingindo a marca de 23% de pessoas
recuperadas, das mais de mil famílias encaminhadas”, contabiliza. O prefeito
salienta: “não podemos esquecer que é um processo e às vezes pode ser um pouco
demorado. É ressocializar, empregar e consolidar
o grupo de ajuda”, o prefeito enfatiza que é fundamental inserir estas pessoas
no mercado de trabalho e, neste aspecto, exemplifica: “Hoje na minha equipe de trabalho há quatro ex-usuários em cargos
comissionados e onze servidores efetivos, aprovados por meio de concurso”.
Olá Emmanuela!
ResponderExcluirExcelente postagem! O dialogo com os jovens ainda é a melhor prevenção.
http://jefhcardoso.blogspot.com lhe espera. Abraço!