COMO UM DEPENDENTE QUÍMICO CONSEGUE RECUPERAR-SE?

 Significado de Recuperar:

v.t. Reentrar na posse, no gozo de: recuperar a fortuna. / Recobrar: recuperou a visão. / Promover a restauração de: recuperar um quadro célebre. / Fazer reintegrar-se na sociedade: recuperar menores delinqüentes. / &151; V.pr. Restabelecer-se: recuperar-se de uma pneumonia. / Reabilitar-se, readquirir prestígio: depois de várias derrotas, o atleta recuperou-se./

FONTE: Dicionário Aurélio Online
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
Para que uma pessoa recupere sua riqueza física, sua capacidade de autonomia, liberdade, consciência, assumir a responsabilidade integral por si mesma, uma série de fatores precisam harmonizar-se devidamente:
 
1- DESINTOXICAÇÃO QUÍMICA MEDICAMENTOSA
2- AFETO E VÍNCULOS EMOCIONAIS SAUDÁVEIS
3- AUTO-CONTROLE POR MEIO DE ATIVIDADES DE TERAPIAS E AUTO-TERAPIA
4- LUDICIDADE E JOGOS COM REGRAS
5- LABORTERAPIA
6- PRÁTICA DE ESPORTES
7- GRUPO DE APOIO À FAMÍLIA
8- GRUPO DE TRABALHO E RESINSERÇÃO SOCIAL
9- TRABALHO REMUNERADO PARA ADULTOS E ESCOLA PARA ADOLESCENTES E CRIANÇAS
10- ACEITAÇÃO SOCIAL DO RECUPERANDO
 
Esses dez itens citados são apenas o começo para uma complexa situação de relações internas e externas de reeducação, tanto do recuperando quanto do seu meio social, pois o dependente químico, de alguma forma, tornou-se produto de um meio doente, às vezes até criminoso, injusto, desigual e violento.

De acordo com a Constituição Federal: Art. 5º- “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;”
 

Este artigo contribui e norteia as políticas sobre drogas do Distrito Federal a oferecer condições de tratamento público aos dependentes químicos, respeitando seus direitos individuais e coletivos conforme citado acima.

 

No Brasil, atualmente já existe uma clínica pública no interior do Estado de São Paulo chamada ALAMEDAS, do Instituto Bairral de Psiquiatria para dependentes químicos, na região de Itabira, que oferece atividades esportivas, terapêuticas e assistência médica para 35 usuários de crack e cocaína, e 70 alcoolistas. A rotina esportiva é coordenada por um professor de educação física e monitores. No local há um campo de futebol, espaço para caminhada ao ar livre, piscina para atividades aquáticas de hidroginástica e bigboll. As regras dos jogos auxiliam o discernimento do certo e errado, limites e frustrações psicológicas, orientados por psiquiatras e uma equipe multidisciplinar, além de interação com atividades ocupacionais de arte e artesanatos diversos. Esta clínica apresenta também um trabalho de conscientização do dependente químico sobre sua doença, apoio às famílias dos usuários em tratamento por meio voluntário ou se a equipe multidisciplinar julgar necessária. Os atendimentos ocorrem separadamente, apesar de algumas atividades serem simultâneas, o perfil dos usuários alcoolistas atingem mais as  pessoas maduras de 30 a 40 anos que já tiveram uma vida estruturada antes do uso abusivo do álcool e perderam tudo em função da droga. Já os usuários de crack e cocaína atingem a juventude, que geralmente não teve tempo de constituir família e cometeram alguns delitos como furtos e latrocínio (roubo seguido de morte). Nesta clínica, os pacientes aprendem o valor do trabalho e do exercício físico além da desintoxicação química, para recomeçarem suas vidas fora do ambiente localizado em área verde próxima às cidades de Águas de Lindóia, Amparo, Serra Negra e da fronteira mineira de Jacutinga e tem conseguido bons resultados relatados pelos próprios pacientes. Registrou-se baixo índice de intercorrências. Houve poucos casos de internos que pediam ao visitante para trazer droga. A transgressão de comportamento dos ex-internos é avaliada caso a caso. Por exemplo, se a pessoa apresentar sintomas de confusão mental, agitação, risco de fuga ou suicídio, uma saída é encaminhá-la à enfermaria especial da UTI psiquiátrica, que possui 8 leitos e oferece atendimento médico e psicológico diários. O serviço público é uma parceria entre o Instituto Bairral de Psiquiatria, a Secretaria de Estado da Saúde e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 Com a divulgação da Pesquisa Sobre a Situação do Crack nos Municípios Brasileiros, em dezembro de 2010, diversos gestores entraram em contato com a Confederação Nacional de Municípios (CNM) para relatar os problemas causados pelas drogas e as medidas tomadas para tentar reverter à situação na sociedade local. O estudo mostrou que o Crack apresenta-se em quase todos os Municípios brasileiros, portanto o poder público tem despertado políticas públicas para resolver o problema que atinge diversas famílias.

A Comunidade Terapêutica Pública (CTP) Reviver,  consiste em um projeto de recuperação de usuários de drogas desenvolvido em Cachoeirinha (RS) sob a administração da prefeitura. O espaço localizado em um recanto verde de 11 hectares do Distrito Industrial terá: telecentro, sala de ensino multiseriado e oficinas de padaria, de confeitaria, de plantação de hortifrutigranjeiros e de produção de fraldas geriátricas e pediátricas. Toda a estrutura foi montada com o apoio da sociedade civil e demais segmentos da região. Como por exemplo: equipamentos para as oficinas e os equipamentos de acessibilidade nos banheiros foram obtidos por meio de doações o que resultaram em grande economia de custos ao Município.

O caso de Cachoeirinha no Rio Grande do Sul chama a atenção não só pela implantação do novo órgão criado, a Comunidade Terapêutica Pública (CTP) Reviver, inaugurada no dia 12 de março de 2011 representa um projeto pioneiro no País. Principalmente pela história do prefeito Luiz Vicente Pires. Ex-dependente químico, inclusive em Crack, o prefeito superar todos os problemas da droga e prioriza ações governamentais que levam esperança a pessoas que ainda sofrem por causa da dependência química. Hoje, emocionado, Pires conta a sua história e se enche de motivação para ajudar quem se encontra na mesma situação em que ele esteve durante mais de

30 anos de sua vida. De acordo com os seus relatos, a maconha foi a primeira droga que experimentou, posteriormente passou a consumir bebidas fortes, a usar cocaína e, aos 30 anos, estava completamente dependente do Crack.

Envolvido com drogas desde os 16 anos, com ficha criminal, Pires buscou ajuda. Uma possível recuperação começou aos 33 anos, após muito sofrimento. O prefeito relata que foi condenado a seis anos de prisão, dos quais cumpriu três anos. Entretanto, com a força de vontade e o apoio da família – da esposa e dos quatro filhos – conseguiu se superar e venceu o processo de reabilitação e ressocialização. Foram nove meses de internação em uma comunidade terapêutica envolvido com atividades cotidianas e espirituais – conforme ele chama. “O poder público e a espiritualidade me ajudaram neste processo”, reconhece.

Depois de recuperado o prefeito começou a descrever para as pessoas sua experiência complexa com as drogas. “Comecei com palestras e reuniões em grupos”, relata Pires. E desta pequena iniciativa surgiu um grande representante da sociedade, apoiado pela comunidade local. Sem esconder, nem maquiar sua história, Pires foi galgando cargos públicos até a sua candidatura a prefeito. “Foi muito difícil o processo eleitoral, os adversários políticos usavam o caso para colocar dúvida nas pessoas em relação à minha condição de ex-dependente”, lembra.

De toda a sua trajetória, o prefeito reconhece que a parte mais difícil é lidar com preconceito e a desconfiança das pessoas. Mas em seu caso ele teve o privilégio de ser conhecido na cidade e receber o apoio da comunidade em geral. “As pessoas acreditaram em minha recuperação e fui um dos candidatos mais votados da história do Município”, relata. Ao ser eleito prefeito, aquilo que era apenas uma pequena iniciativa se tornou uma política pública de recuperação a dependentes químicos e desta política a implantação do projeto Comunidade Terapêutica Pública.

Com pesar Pires relata como ocorreu a discriminação: “O preconceito das pessoas, que não acreditam na recuperação, e a vergonha que a família passa é a parte mais difícil do processo de ressocialização”, relata. Ele também constata: “muitas vezes podemos perder um recém- recuperado porque ele encontra muita dificuldade para retomar a confiança da sua comunidade”, lamenta. “A reinserção social de um ex-dependente químico ainda é muito difícil por causa do preconceito”, destaca.

A ligação entre drogas, violência e crimes também foram relatadas pelo prefeito durante a entrevista. “O Mundo das drogas está totalmente ligado às mazelas que acontecem numa cidade. É na dependência química que se inicia a maioria dos crimes e das mortes”, atesta. Pires fala, não apenas por experiência de vida, mas também pela confirmação obtida por meio de dados do Município e de pesquisa pública.

De acordo com o prefeito gaúcho, a localização de Cachoeirinha é um agravante para a entrada das drogas. Situado na região metropolitana do Estado, o Município tem os 47 km² de extensão territorial e abriga mais de 118 mil habitantes, a maioria de classe média baixa. O que, de acordo com ele, é um indicativo de entrada maior de drogas. No entanto, mesmo com as dificuldades administrativas, Pires declara que em seis anos, o projeto social de recuperação aos dependentes já mudou a vida de mais de 250 pessoas, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todos reabilitados e socializados. “Em 2008 éramos a cidade com maior índice de violência da região metropolitana do Rio Grande do Sul e atualmente, mostrou uma pesquisa de 2010, não estamos nem na lista das dez mais violentas”, celebra.

Este resultado ele julga ser apenas reflexo das políticas sociais, principalmente a de recuperação a dependentes químicos e de acompanhamento familiar destes. “Estamos atingindo a marca de 23% de pessoas recuperadas, das mais de mil famílias encaminhadas”, contabiliza. O prefeito salienta: “não podemos esquecer que é um processo e às vezes pode ser um pouco demorado. É ressocializar, empregar e consolidar o grupo de ajuda”, o prefeito enfatiza que é fundamental inserir estas pessoas no mercado de trabalho e, neste aspecto, exemplifica: “Hoje na minha equipe de trabalho há quatro ex-usuários em cargos comissionados e onze servidores efetivos, aprovados por meio de concurso”.

 

 
 
 

Comentários

  1. Olá Emmanuela!
    Excelente postagem! O dialogo com os jovens ainda é a melhor prevenção.
    http://jefhcardoso.blogspot.com lhe espera. Abraço!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

ATENDIMENTO NEUROPSICOPEDAGÓGICO

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E EXCLUSÃO SOCIAL

Platatorma de Avaliação e Acompanhamento NEURON Up